Rua Vazia - suspense - Mundo Hipotetico

Dois reais para comprar um lanche

Atenção: esta história possui um teor de suspense

Era mulher e jovem. Caminhava às 5 da manhã pelas ruas desertas e escuras, não por opção, mas porque precisava. Levantava cedo para viajar até o outro lado da cidade, num percurso de 3 horas e trabalhar como diarista. Precisava, pois sustentava sua mãe inválida e seu pai, quanto este resolvia aparecer, sem dinheiro e com dívidas de jogo.

Ela andava rápido sempre, pois as únicas horas em que andava pelas ruas não eram apropriadas para uma mulher. Chegava ao ponto de ônibus ofegante. Algumas vezes aliviada por estar acompanhada, quanto esta era mulher e outras vezes desconfiada, quando este era homem.

Mas dessa vez não havia ninguém. Nem uma só alma naquela rua vazia. Tudo bem. Dizia para si mesma. Não há de acontecer nada.

Passado ali dois a três minutos de sua espera, começou a ouvir passos arrastados em sua direção. Em meio a escuridão surgia uma figura maltrapilha, com andar bêbado e exalando um odor que chegava a ser indecente aquela hora da manhã de estômago vazio.

Ela rezava baixinho. Esperava que nada lhe acontecesse, que não fosse vista. Mas o homem se aproximava e vinha em sua direção. O seu desespero aumentava junto com a vontade de sumir dali. O som dos seus passos ficavam cada vez mais próximos e ela não sabia para onde correr.

E ele chegou. Parou de frente para ela e a olhava da cabeça aos pés. Enquanto um arrepio percorria por toda a sua coluna. Ela tremia, esperava pelo pior já que estava sozinha.

O homem, desconjuntado tanto no portar quanto no falar, proferia palavras inteligíveis. E ela ia estremecendo cada vez mais e encostando no banco, se encolhendo. E cada vez que dava um passo para trás o homem aproximava no mesmo ritmo. Até que ela se viu encurralada, sem ter por onde escapar e nem gritar naquela rua repleta de comércios que só abririam a partir das 9 horas.

E ele não parava de dizer palavras difíceis de entender, parecia que queria tortura-la. Apesar, que tinha um olhar cheio de dúvida e expectativa. Mas perante o seu desespero, a jovem mulher não notou. Ela fechou os olhos, esperando que ele desaparecesse, mas não adiantava, continuava com seu discurso que só ele mesmo entendia.

Se vendo nesse beco sem saída, ela respirou fundo e decidiu enfrenta-lo. Tomou fôlego mais uma vez, abriu os olhos e encarou o homem. Ele proferiu suas mesmas palavras, mas dessa vez ela conseguia entender:

– Tem dois reais para comprar um lanche?

Embascada com a pergunta, respondeu de modo automático:

– E-eu não tenho di-dinheiro, senhor.

O homem assentiu e agradeceu. Seguiu pela rua como se nada tivesse acontecido. Mais uma situação comum em seu dia.

A jovem mulher sentou-se no banco aliviada, mas ainda trêmula do nervoso que havia passado.

O ônibus logo chegou, o caminho a partir dali seria mais tranquilo. Estava fora de perigo. Não era nada. Mais uma vez havia escapado. Mas por quantas vezes mais?

Passou a catraca e deu uma olhada rápida nos passageiros. Três homens com expressões tranquilas, um até cochilava. Havia cinco mulheres, todas com o mesmo olhar que ela carregava todas as manhãs. Sempre alertas.

Havia escapado mais uma vez. Tornou a pensar. Mas quantas mulheres poderiam dizer o mesmo?

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