Sempre que eu chegava em casa ela estava lá, com seus passos curtos e pacientes, andando de um lado para o outro, como se quisesse controlar tudo o que estivesse ali.
Por onde passava, soltava um resmungo, estava sempre brigando, sempre zangada, talvez por esse seu jeito tão temperamental, fosse tão adorada.
As visitas iam lá só para vê-la, brincar com ela, ouvi-la também. Mas ela nem se importava, continuava com seus passinhos curtos de lá pra cá, daqui pra lá.
Tentávamos segurá-la em nossos braços, mas logo escapava, era livre mesmo sendo um pássaro de asas cortadas.
Sim, era um pássaro que parecia gente, brigava e brincava a todo tempo, não havia quem não deixasse sorridente.
Seu jeitinho era de uma senhora idosa, tão delicada, mas escondendo uma personalidade imponente.
Pericota, ela se chamava, a calopsita que vivia conosco. Veio para nossas vidas ainda com um ano, era parte de nossas vidas, mas seu tempo foi breve, durou apenas seis anos.
Tinha sua vidinha própria, sabia se cuidar, sabia se impor, porém mesmo assim, não pôde escapar da dor.
Pericota caiu doente, em um inverno de frio extremo, quando os médicos a examinaram, já nao havia o que fazer, ela não aguentaria mesmo.
Nossa passarinha se foi, deixando saudade em nossos corações.
E até hoje as visitas perguntam, para onde aquela senhora se foi.