
Havia uma garota de olhos extremamente esbugalhados. Eram olhos tão grandes, que todos reparavam até de longe. A garota de olhos esbugalhados tentava disfarçar, usando óculos escuros, abaixando a cabeça ou fingindo estar dormindo sempre que podia. Mas não adiantava, sempre havia algo que a fazia pular de susto, assim os óculos caiam no chão e os seus olhos se arregalavam mais ainda. E novamente lá estavam todos olhando para ela, a garota de olhos esbugalhados.
A garota, embora não soubesse, era linda e seus olhos, tão esbugalhados era o que tinha de mais bonito e mais especial, ela tinha o brilho, algo de que a tornava tão diferente e tão excêntrica, que nem ela mesma sabia explicar e muito menos reconhecer todo o seu valor.
Mas um dia, estava ela andando pelas ruas da cidade, próxima a uma galeria, onde ela resolveu entrar. Haviam diversos quadros ali, um mais bonito que o outro, porém nenhum deles possuía algo especial.
Até que, chegando a última sala da simpática galeria, a garota se deparou com algo surpreendente, a obra mais bonita, mais espetacular que havia ali, uma imagem de uma garota de olhos extremamente esbugalhados, olhos brilhantes e vivos, que podiam ver além, olhos que tinham a visão que muitos não tinham.
Quando a garota se afastou, percebeu que a obra se tratava de seu retrato, ou melhor, aquela obra viva e ambulante, naquele momento, era o seu reflexo tão iluminado. Com tamanho vislumbre, ela compreendeu e cansou de se esconder, o mundo precisava daquela inspiração.
Foi então que nossa garota percebeu o seu valor, o seu brilho, o seu diferencial. Ela era uma musa, não uma musa de olhos de ressaca como vemos por ai, nem do tipo que vemos na televisão, mas sim uma musa de olhos bem abertos, a musa que todos precisavam se inspirar, com a capacidade de ver o mundo, com muito mais alegria, muito mais cor, coisa que muitas garotas, que não tinham os olhos tão esbugalhados como os dela, não tinham a capacidade de fazer, pois estavam a perder seu tempo, com um mundo que não vale a pena enxergar.
