A gente nunca sabe quem vai encontrar…

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Era sexta-feira e estava em um bar qualquer dessa cidade, em mais uma de minhas noites solitárias. Eu bebia uma garrafa de Budweiser, enquanto observava olhares de diversas pessoas para mim.

Qual o problema de estar em um bar sozinha?

O que as pessoas têm contra a solidão?

Enquanto eu devaneava, eis que ele surge bem na minha frente. Não percebi sua presença, mas ouvi sua voz:

– Fico me perguntando por que uma garota como você escolheria ficar sozinha em plena sexta-feira… – sua voz era carregada de sedução.

– Às vezes o prazer está em desfrutar de sua própria companhia e faço isso muito bem. – Eu disse de forma ríspida, sem nem ao menos olhá-lo, tentando dispensá-lo.

– Adoraria saber como consegue fazer isso. Posso me sentar?

Que cara insistente.

Resolvi finalmente olhar para ele. Era um homem muito bonito, pele clara, cabelo escuro, alto, forte, atlético e com olhos extremamente azuis. Fiquei tão surpresa com sua aparência, que mal consegui pronunciar um sim. Ele assentiu com a cabeça e sentou na minha frente.

Enquanto eu observava sua feição, ele me perguntou:

– E então, está curtindo a noite?

Recuperando meu fôlego e sem dar o braço a torcer respondi:

– Estava curtindo muito, até você aparecer. Mas já que está aqui, me diga seu nome.

–  Nossa, você é brava, hein? Me chamo Miguel e você?

– Carla… – respondo, com um sorriso forçado.

– É um belo nome! O que você faz? – Sim, ele realmente estava disposto a conversar.

A partir daí, mesmo não tendo escolha, passamos a conversar animadamente. Afinal, tínhamos gostos e interesses em comum, gostava de games, quadrinhos, cinema e filosofia assim como eu. Ele era engenheiro, enquanto eu era Jornalista. Fizemos faculdade no mesmo lugar e morávamos perto um do outro.

Tenho que confessar que estava gostando da companhia, há tempos que não conhecia alguém e talvez já estivesse na hora de dar um passo à frente.

Continuamos nossa conversa cada vez mais empolgante, a noite voou e já passava da meia noite. Nesse momento, olhei no relógio e disse que estava quase na hora de ir embora, ele me olhou surpreso, pois também não tinha percebido o tempo passar tão rápido. Pedimos a conta, ele quis pagar tudo, eu insisti que dividíssemos o valor. Dividimos. Levantei para me despedir e ir embora, ele se propôs a me levar até meu carro.

Nossa, que gentil!

Fomos andando pela calçada, paramos em frente ao meu carro e quando fui abrir a porta, ele me impediu. Olhei assustada e ele me encostou na porta do carro, me prendendo entre a porta do carro e seu corpo. Olhou para mim, colocou a sua mão em meu rosto, aproximou seus lábios do meus e me beijou. Fechei meus olhos e me entreguei, estava na cara que ele também. Fazia tempo que eu não sentia essa sensação tão gostosa me invadir. Talvez nunca tivesse sentido de forma tão intensa quanto naquela noite.

Ainda atordoada, ele me soltou e sorriu, me afastei para abrir a porta do carro, me despedi e entrei. Mas ele não foi embora. Enquanto me acomodava no carro, ele deu a volta e entrou também. Surpresa e feliz ao mesmo tempo, me aproximei sem dizer nada, começamos a nos beijar novamente, nos abraçamos, nos agarramos e ficamos ali um bom tempo. Perdi o controle. E isso foi muito bom.

Fiquei extasiada, há muito tempo não me sentia assim, estava feliz por ter me permitir e me envolver dessa forma. Talvez eu devesse dar mais chance para a felicidade, me entregar, ser de alguém.

Por que não? Miguel era um cara legal e estava claro que tínhamos uma sintonia forte.

Enquanto refletia de forma tranquila e com um sorriso bobo no rosto, Miguel, que até então estava em silencio também, se vira e fala:

– Eu não anotei seu telefone…

– E eu também não anotei o seu… – digo em um tom de quem havia realmente esquecido. Mas a verdade é que nunca passava o meu número para ninguém. Detestava criar vínculos.

Mas desta vez seria diferente. Peguei meu celular, coloquei na agenda e pedi que anotasse o número. Ele pegou o seu celular e me pediu o mesmo. E eu anotei. Sim, anotei meu número certo.

O que estava acontecendo comigo?

Após termos certeza de que estaríamos conectados depois desse encontro, ele se despediu e foi para o carro dele. Ele era tão bonito! Também era extremamente carinhoso, compreensivo e fácil de lidar. Enquanto pensava, liguei o carro e fui para casa. No caminho, fiquei pensando naquela noite tão inesperada, tão maravilhosa e tão gostosa. O sorriso teimava em ficar nos meus lábios. Quando cheguei em casa, fui direto para a cama e dormi feliz da vida. Havia um turbilhão de sentimentos dentro de mim e estava sentindo muitas coisas mudarem.

Aquela foi a última noite que vi Miguel. Na verdade, a única vez que nos vimos. Que nos conhecemos. No dia seguinte após o encontro ele me mandou mensagens, conversamos um pouco, respondia suas mensagens, mas aos poucos fui parando.

Logo o dispensei…

Por que fiz isso? Porque eu sou assim. Sempre que conheço alguém me desfaço e nego aproximações mais íntimas, não crio vínculos, por mais que eu queira. Talvez seja medo. Insegurança. Vontade de ficar só. Ser sozinha e independente. Talvez não seja nada disso. Só sei que sempre faço isso. Sempre.

Miguel poderia até ser o amor da minha vida. Ser quem eu esperava, quem me completaria.

Mas nunca vou saber. Como aconteceu com tantos outros que conheci. Porque eu não quero…

Miguel também poderia ser um bom pai.

Mas também não saberei. Porque não terei filhos com ele…

Miguel poderia ser um psicopata.

Mas isso não tenho como saber. Estou em segurança…

Também não saberei se ele seria um péssimo marido.

Isso também é um alívio… 

Miguel poderia ser como todos os outros que conheci.

Talvez seja mesmo, pois logo desistiu. Todos desistem…

 Os homens têm medo de mulheres que não são dependentes emocionalmente… Enfim, Miguel poderia ser um milhão de coisas, mas jamais saberei, porque não me importo…. Mesmo ele sendo o único homem com quem me importei em toda minha vida.

Estava pensando em tudo isso, em um bar qualquer dessa cidade, em mais uma de minhas sextas-feiras solitárias. Passaram-se seis meses desde aquele encontro. Estava tomando uma cerveja para me refrescar, pois era uma noite muito quente. Olhava distraída para as pessoas dançando animadamente, presa em mim mesma, em meu mundo, quando ouço uma voz atrás de mim:

– Fico me perguntando por que uma moça tão bela prefere beber sozinha em um bar, ao invés de responder minhas mensagens…

Arregalo os olhos de susto, meu coração acelera e inconscientemente começo a sorrir. Eu conheço aquela voz:

– Olá Miguel! – digo me virando para ele, olhando para aqueles olhos azuis e aquele sorriso encantador de sempre.

Ele, com um entusiasmo de quem ganhou não só a noite, mas como a vida inteira, simplesmente pergunta:

– Posso me sentar?

                                         FIM

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